O enigma dos cemitérios de São Paulo


O Enigma dos Cemitérios da cidade de São Paulo (Parte 1)






A cidade de São Paulo conta atualmente com quarenta cemitérios, sendo vinte e dois públicos e dezoito particulares, o mais antigo já desapareceu (Aflitos 1774), porém, resta a sua pequena capela no bairro da Liberdade.
O Cemitério dos Aflitos já não mais existe, entretanto, muitos habitantes da cidade ficam intrigados quando passam na Rua dos Estudantes e observam aquela capela no fundo do beco, grudada com as casas, o seu sino pode ser alcançado pela mão dos moradores vizinhos.
Outro fato enigmático envolvendo o Cemitério dos Aflitos é o sepultamento do antigo professor da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, Júlio Frank, que foi enterrado na calada da noite na própria faculdade.
A empreitada ocorreu quando alguns estudantes ficaram inconformados com a ida do corpo de Júlio Frank ao Cemitério dos Aflitos, e resolveram transladar o caixão para dentro da faculdade. Júlio só foi mandado aos Aflitos porque não era católico, e, portanto não podia ser enterrado em nenhuma igreja de São Paulo.
Durante muitos anos, no dia dezenove de junho, o pátio onde está enterrado Júlio Frank era aberto à visitação e seu túmulo ficava iluminado e enfeitado, tradição que se desfez no ano de 1972.[1]
Um acontecimento trágico também envolvendo cemitérios e estudantes do Largo São Francisco, foi a morte da Rainha dos Mortos. No tempo em que São Paulo era uma pequena vila sobravam poucas opções de lazer para os estudantes.
Nesse período, reinavam as prostitutas e os personagens que viviam a boêmia paulistana, como o Padre Bacalhau e a prostituta Ritinha Sorocabana, a preferida dos poetas e boêmios da cidade.
As farras e algazarras que os estudantes promoviam, também eram outras formas de passar o tempo na pacata vila de São Paulo. A estudantada (como eram conhecidas essas farras), a mais trágica foi o episódio que ficou conhecido como Rainha dos Mortos.
Durante uma madrugada ...

Continua ...

O Enigma dos Cemitérios da cidade de São Paulo (Parte 2)






Durante uma madrugada os estudantes resolveram levar a prostituta Eufrásia para dentro do Cemitério da Consolação, e para isso arrumaram um caixão, e em procissão pela cidade os estudantes levaram Eufrásia viva até o cemitério, quando abriram o caixão perceberam que Eufrásia estava morta.
A idéia era fazer uma celebração, onde Eufrásia seria coroada Rainha dos Mortos, todavia, a rainha deveria estar viva e não morta como Inês Pereira. O caixão fechado asfixiou Eufrásia.
Como os envolvidos no caso eram de famílias influentes o processo acabou sendo arquivado. Um dos estudantes nessa farra era o poeta Fagundes Varella.
Um grande drama vivido por Fagundes Varella também envolveu o Cemitério da Consolação. Ele se apaixona por uma artista circense da Companhia Loande, que chega ao antigo Teatro São José.
Com o casamento de Alice Guilhermina Loande e Fagundes Varella nasce um menino de nome Emiliano, que morre precocemente, então Fagundes Varella faz o belo Cântico do Calvário e toda noite ele ia recitar o verso no Cemitério da Consolação.
Cântico do Calvário
Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. – Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro
Eras a messe de um dourado estio
Eras o idílio de um amor sublime
Eras a glória, - a inspiração, - a pátria
O porvir de teu pai! Ah! no entanto,
Pomba, - varou-te a flecha do destino!
Astro, - engoliu-te o temporal do norte!
Teto, - caíste! – Crença, já não vives! ...
As histórias dos cemitérios de São Paulo não ficam restritas apenas ao passado, os enigmas também estão presentes nos fatos recentes da história da cidade.
O Cemitério de Santo Amaro ...
Continua ...

O Enigma dos Cemitérios da cidade de São Paulo (Parte 3)

O Cemitério de Santo Amaro tem um túmulo rodeado de placas de agradecimentos, trata-se de Bento do Portão, um mendigo morador das ruas de Santo Amaro, que faleceu e posteriormente começaram a atribuir milagres a ele.
As mesmas sinas de milagreiros tiveram treze vítimas do incêndio do Edifício Joelma, sepultadas no Cemitério São Pedro (Vila Alpina). Elas ficaram conhecidas como "As Treze Almas do Joelma”.
Outras vítimas do Joelma, que foram enterradas no Cemitério da Vila Formosa, acabaram sendo objetos de uma inusitada coincidência, pois sepultadas na quadra cinqüenta, acabaram sendo exumadas e na mesma quadra vieram oitenta e sete vítimas da chacina do Carandiru.
O mistério ainda paira no ar quando o assunto é desaparecidos políticos do período da ditadura militar, As associações de desaparecidos políticos lutam e sofrem com as informações dos sepultamentos clandestinos realizados nos vários cemitérios da cidade.
Uma das maiores descobertas das ossadas de desaparecidos políticos foi feita no Cemitério de Perus. Com uma grande vala comum desenterrada, os legistas agora podem identificar alguns dos desaparecidos.

O Cemitério de Perus não é o único que abrigou as vítimas dos assassinatos políticos. No Cemitério da Vila Formosa, durante muito tempo, foi possível ver a sepultura de Carlos Marighella
É o primeiro ano da minha vó morta e estou na quadra 349 do Cemitério de Vila Formosa. 'O maior da América Latina' – minha mãe me diz no ônibus. Próximo do lugar, numa região de covas bem arrumadas com flores e lápides de cimento, o que me chama a atenção é uma tumba revolvida - acintosamente revolvida pelo contorno organizado da vizinhança. Me aproximo desse monte de terra onde as formigas fazem a festa. A cruz de madeira que caíra tem a metade de um dos braços enterrada. Tento ler: gella, quella, ghella... Penso berinjela com molho. É uma época em que me surpreende o desenho das letras, o som, e o significado das palavras. Sorrio. A poeira faz redemoinho. Sinto uma mão me puxando violentamente para trás. É meu pai. Ele continua me arrastando enquanto olha amedrontado para os lados das colinas e das gavetas das ossadas que cercam tudo. Ordena que eu nunca mais me aproxime daquele túmulo. Diz que é o túmulo de um terrorista; que a polícia podia estar vigiando. Demorei a entender o interesse da
polícia em vigiar os mortos naqueles tempos. Para mim, daquele dia em diante, 'terrorista' vinha da 'terra', a terra fofa e varada de formigas do maior Cemitério da América Latina.” 
Os restos mortais de Marighella ficaram no Cemitério de Vila Formosa até 1979, quando foram transferidos para a Bahia, onde foi sepultado novamente com o epitáfio “Não Tive tempo de ter medo”.
Os cemitérios da cidade de São Paulo, entretanto, não são só enigmáticos, eles podem ser palco de desvendamentos da História, Geografia e Arte da cidade, Vamos agora fazer um pequeno roteiro com três túmulos que revelam aspectos peculiares da cidade de São Paulo e do Brasil.
A primeira vista, esse túmulo causa estranheza ...